IPv6 inclui novos recursos de segurança para detecção e bloqueio de ataques. (Foto: Anders Engelbøl / SXC)

Rede nada, o negócio é gravar BD-R e mandar por correio. (Anders Engelbøl / SXC)

Se você tem se escondido da internet nos últimos meses e ainda não está sabendo do plano mais recente das operadoras de telecomunicação do Brasil, que querem finalmente fazer valer as franquias de dados em internet fixa, leia mais aqui e depois volte.

Voltou? Obrigado. Bom, resolvi dar uma olhada e calcular o preço por GB para ver até que ponto valeria a pena continuar transferindo dados na internet pós-franquia.

O preço da Vivo por GB nos planos fica entre R$ 0,52 e R$ 0,76. Note que não há cobrança de dados excedentes ainda; esses preços estimados são a partir dos próprios planos. Por exemplo, o plano de 300 Mbps da Vivo, fora de combos, custa R$ 229,90 e tem 300 GB de franquia — é daí que tirei o custo de R$ 0,76 por GB.

Aliás, estou pegando a Vivo de exemplo, mas pode pegar os números de qualquer operadora — a conta é parecida.

Diante desses valores, transferir 25 GB (o equivalente a um Blu-Ray) custa, no mínimo, R$ 12,50 (R$ 0,50 / GB), podendo chegar a R$ 19 (R$ 0,76 / GB). E, se você for enviar esses dados para outra pessoa no Brasil, lembre-se que ela paga também, porque consome a franquia de ambos. Logo, a transferência entre dois brasileiros custa de R$ 25 a R$ 38.

Comprando em quantidade, discos de Blu-Ray, com os mesmos 25 GB de capacidade, custam R$ 1,80 a R$ 3.

Na admirável nova internet brasileira, gravar um Blu-Ray e enviar pelos Correios (até via Sedex, quem sabe — do PR para SP custa uns R$ 30) vai ser mais barato do que transferir os dados pela rede. Se for meio perto, melhor até mandar de motoboy para diminuir o “lag” — e olha que, se sua internet for cortada depois de terminada a franquia, para ser só reativada no mês seguinte, é possível que a carta chegue antes até se for simples.

E se você for transferir muitos dados mesmo, vai descobrir que é mais barato dar o HD de presente (aproximadamente 0,25 / GB, em 2 TB). Detalhe que, a R$ 0,76 por GB, também é mais barato alguém te entregar um DVD com episódios do Netflix (R$ 0,70, 4 GB) do que assistir esses episódios no streaming (R$ 3). Camelôs agradecem.

Dá pra diminuir?

Na mesma Vivo, a diferença entre um plano com 50 GB a mais de franquia que outro é de R$ 10. O que daria um custo por GB de R$ 0,20. Muito difícil de se imaginar a empresa ofertando pacotes com esse preço por GB, mas parece, ao menos, justo. Nesse caso, a conta acima, da transferência dos 25 GB, cai para “apenas” R$ 5 (ou R$ 10, contando as duas pontas da conexão).

O que põe por água abaixo a conversa fiada das operadoras e da Anatel de que a mudança é para beneficiar quem usa pouco a internet. A cobrança dupla — da largura de banda e do tráfego — não é vantajosa para quem usa pouco. Para esses, era só oferecer um plano de “pague pelo o que usar”, medido exclusivamente por GB a um alto custo (como, digamos, os R$ 0,76).

Vale lembrar que as franquias de internet móvel foram sempre cobradas pela franquia dados e tecnologia (3G ou 4G, por exemplo), nunca pela largura de banda.

Até gente grande paga 0,24 por GB

A Locaweb, em seus planos de servidores (contratados por gente que precisa manter sites e serviços de rede no ar) cobra R$ 6 por pacotes de 25 GB. São R$ 0,24 por giga.

Dificilmente esse preço de tabela é o menor que a Locaweb oferta, mas ele daria um custo de transferência – para duas partes – de R$ 12. Ainda é mais caro que o Blu-Ray, mas já inviabiliza o Sedex.

Uma comparação injusta

Os Estados Unidos são sempre uma péssima comparação para tudo, mas o provedor onde a Linha Defensiva mantém seu servidor cobra por GB… na verdade, não divulgam. Mas atualmente cobram R$ 470 (conta de dólar a R$ 3,60) pelo servidor mais barato, que vem com 20.000 GB de tráfego.

Mesmo considerando que o preço todo seria apenas da conexão (lembrando que ele inclui o computador – com troca grátis de hardware – e energia elétrica), o preço por GB é R$ 0,02.

E nesse provedor só se contabiliza o upload. Download é na faixa.

Difícil dizer se essa comparação é injusta porque estamos falando dos Estados Unidos, porque estamos falando de uma conexão corporativa de 1 Gbps ou porque estamos incluindo um servidor inteiro com espaço físico e energia elétrica e comparando ele a só uma conexão brasileira. Decida você.

Mas, se for ajudar, na Locaweb o servidor mais barato custa R$ 655 e tem franquia de 175 GB. Que é menos do que você consegue por cento e poucos reais nos 100 Mega da Vivo (franquia de 220 GB).

Estou forçando a barra nas comparações, mas a moral da história não é a perfeição dessas comparações. A moral é: nada disso faz sentido. Não faz sentido que uma pessoa possa contratar a um preço não tão alto uma conexão com mais transferência de dados que um servidor, e ao mesmo tempo não faz sentido que a franquia de um servidor brasileiro seja 100 vezes menor que a de um servidor norte-americano de valor semelhante.

E se uma empresa brasileira precisa cogitar entre transferir dados pela internet ou mandar um Blu-Ray por carta para não estourar o limite do mês, isso significa perda de produtividade.

Coitado do Brasil.

Escrito por Altieres Rohr

Editor da Linha Defensiva.

3 comentários

  1. Internet e servidor no Brasil são duas coisas absurdamente caras e ruins.

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  2. É um absurdo!
    É o que posso chamar de tecnologia do desserviço, porém, precisamos dela no no caso presente, em muitas situações não como fugir, mas encarar os preços na nuvem…

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  3. Wilkyn Custódio 30/12/2018 às 01:38

    Pois è, nada a ver mesmo esse negócio de limite mensal de gigabytes das operadoras brasileiras de telefonia. Na verdade tinha que ser igual era antigamente, gigabytes ilimitados por mês pra todos os clientes. Assim todo mundo usa o tanto que quer a internet sem precisar pagar a mais por isso.

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