Fiquei impressionada com a notícia que 65 participantes do ENEM foram sumariamente desclassificados do exame por postar fotos das salas de provas e dos cartões-resposta. Como diria Armando Marques, “a regra era clara” proibindo o uso de celulares e aparelhos eletrônicos durante a prova, mas mesmo assim esses estudantes, e mais alguns que não foram pegos, não resistiram à tentação de mostrar ao mundo o que estavam fazendo naquele exato instante.
58 horas e 33 minutos
é o tempo que o brasileiro passa na internet, por mês, segundo o Ibope
Recentemente o programa Fantástico — da Rede Globo –, copiando um experimento feito em uma peça publicitária belga demonstrou o quanto as pessoas gostam de expor sua intimidade on-line. Um ator, se passando por vidente, ‘”advinhava” detalhes íntimos da vida das pessoas apenas usando as informações postadas por elas mesmas em suas páginas do Facebook.
Não só as pessoas publicam tudo o que fazem, como estão cada dia passando mais tempo na internet. Segundo o Ibope, o brasileiro é o povo que fica mais tempo online – 58 horas e 33 minutos por mês. Ingleses e americanos estão em segundo e terceiro lugar, respectivamente.
Isso me remete a uma entrevista que li há algum tempo atrás com a baronesa Susan Greenfield – neurocientista e professora de Oxford. Susan compara as redes sociais e seu poder viciante à indústria do cigarro, ao desconfiar que há mais coisas além de um simples feixe de elétrons na telinha das redes sociais e dos videogames . Segundo ela, os ‘nativos digitais’ terão dificuldade de viver a vida real e passarão a maior parte da vida online. “As crianças que estão crescendo agora nesse ambiente do ciberespaço, não vão aprender como olhar alguém nos olhos, não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal”.
Já o Dr. Luís Fernando de Souza-Pinto — psicanalista e mestre em psicobiologia , levanta uma questão interessante: “A internet colocou a educação, o ensino e as relações humanas em teste; e agora vai colocar a própria realidade em que vivemos em teste. Até pouco tempo, tínhamos apenas uma maneira de aprender, de nos relacionarmos e de viver no mundo. Agora temos outras formas de experimentar isso. A questão é: qual delas iremos preferir?”
Seja como for, não tem mais volta. Cada vez mais estamos conectados e dependentes da tecnologia. Certamente iremos descobrir a maneira correta de equilibrar esses aprendizados e nos tornamos melhores.
Toda vez que leio uma análise sobre o lado bom e o ruim de uma nova tecnologia, me do mito do rei Tamuz e o deus Thot, sobre a invenção da escrita. Belo texto Lua.
“Seja como for, não tem mais volta.”
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