Nunca estudei programação formalmente, mas ainda arrisco escrever umas linhas de código quando as circunstâncias me obrigam. Para ser sincero, eu nem gosto. Mas admiro. Fazer a coisa funcionar é legal e tem certas soluções para problemas que são uma expressão de tudo o que se pode pensar por “genialidade”.
E isso fica ali, na sua tela, em instruções que serão lidas por um programa.
Mesmo assim, essa minha admiração é meio inexplicável. Eu só aprendi linguagens ruins.
Comecei com ColdFusion, uma linguagem que tira seu nome de uma hipotética modalidade de fusão nuclear. Era decente nas mãos de uma empresa chamada Allaire, mas faliu nas mãos da Macromedia — aquela empresa que deixou a web mais lenta, insegura e engraçadinha com o Flash — e ficou ainda mais falida nas mãos da Adobe, criadora do Photoshop, mais conhecido como “o que deixa as mulheres da Playboy mais bonitas”. Até onde me consta, a Playboy lida com outro tipo de fusão.
Depois aprendi PHP, que é mais ou menos a Britney Spears das linguagens de programação – todos sabem do que se trata, muita gente atura por necessidade, alguns gostam, a maioria só conhece mesmo no playback (“copiar e colar”). O Facebook usa. Mas toda a turma do fundão, que manja das coisas, vive zoando o PHP.
Aí eu aprendi VBScript. VBScript é o filho mais inútil do Visual Basic, e o Visual Basic é a boy band da programação. Bonitinho por fora, mas ordinário por dentro. VBScript não é nem bonitinho, nem muito útil. De tão irrelevante, muitos nem consideram. Melhor esconder no currículo.
Mas Visual Basic é interessante porque algumas linhas parecem bastante com linguagem “natural” (se sua linguagem natural for inglês, claro). Uma dessas linhas é a On Error.
On Error é a instrução que diz ao programa o que fazer no caso de erros. Uma das instruções possíveis para On Error é a On Error Resume Next.
Programas de computador são rígidos. Ao contrário de seres humanos, não são versáteis. Se você não “explica” ao programa como lidar com uma situação, ele fica perdido. Na hora do pânico, a reação normal de um software é parar tudo antes que coisas piores aconteçam.
É quando algo não está como deveria que em geral surgem os problemas de segurança, mas qualquer desastre é possível quando se sai dos trilhos. Por prudência, muitos programas decidem não continuar.
Mas não é assim com o “On Error Resume Next”.
Com essa instrução, o código sempre tenta seguir em frente. Só erros muito graves são capazes de pará-lo. Questões menores são sumariamente ignoradas.
Aventurar-se com o “On Error Resume Next” é assumir riscos. Lidar você mesmo com problemas maiores e verificar que aquilo que é essencial para o seu programa está em ordem. Enquanto o essencial estiver bom, o resto é detalhe. Ignora-se. Mas, se você não tomar cuidado, tudo pode ruir em silêncio.
On Error Resume Next é terrível para um programa, mas levo comigo para a vida. A versatilidade é uma grande arma do ser humano. Não há razão para não seguir em frente. De fato, seguir em frente é nossa única saída. Então, basta garantir o essencial e acreditar que tudo vai dar certo, mesmo diante daquilo que não saiu como esperado.
E, quando houver dúvida, é só lembrar que até meu programinha em VBScript consegue.
Option Explicit
Outra instrução do Visual Basic é a Option Explicit.
A Option Explicit exige que todas as variáveis sejam declaradas antes de serem usadas. É como dizer a quem está lendo o código que “não teremos surpresas”.
Na prática, o código fica mais bonitinho e evita erros de digitação. Se você errar o nome de uma variável – o que teria consequências drásticas para o programa -, ele não vai funcionar.
Ao contrário do On Error Resume Next, Option Explicit é uma declaração de rigidez. É não estar preparado para surpresas e novos elementos.
Fica claro, portanto, que o mundo real não é compatível com essa exigência. Lembre-se de retirar esta norma do seu programa de vida.
A vida é maior que a execução do programa; é programar. É programar e ver a execução falhar miseravelmente. É programar e ver erros acontecerem e tratá-los através de exceções. É programar e alegrar-se com a execução correta na primeira tentativa, mas é também superação de acertar na centésima vez. É desistir no meio do programa e começar um novo até que, enfim, a memória está cheia, o processo caduca e trava.
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Ótimo texto Altieres! :)
Sua analogia ficou bem interessante.
Não podemos parar por qualquer equivoco que aconteça, precisamos persistir sempre, corrigir os erros, refazer algumas coisas, até que dê tudo certo!
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